sexta-feira, outubro 21, 2011

Balada de uma Esquadra de Faro.



















A maldade dumas e a irresponsabilidade doutras pessoas levou-me à esquadra da PSP de Faro, um local onde nunca tive problemas em entrar - muito menos de sair - mas que não é propriamente o lugar mais turístico da cidade, mais para mais às 23:00. O edifício é sombrio e sinistro, do outro lado da rua fica o Jardim da Alameda e a Escola Tomás Cabreira, mais dois espaços que de noite não inspiram alegria nenhuma. Aqui aguardo diligentemente a chegada dum agente que está a deslindar um crime que me apanhou como interveniente involuntário, uma novela com todos os ingredientes necessários para prender os seguidores. Escusado será dizer que não vou entrar em pormenores revelando apenas que pela primeira vez na vida senti vontade de apagar, limpar, matar alguém. Adiante.

Estou sentado no hall de entrada quando surge uma senhora de cabelos crespos e roupas modestas, diz querer apresentar queixa, o marido ofende-a a torto e a direito, teve de sair de casa e ir para uma pensão em Faro, a oito quilómetros da sua casa porque temeu pela sua integridade física numa noite em que ele regressou mais bruto. Parece-me algo desorientada, perdida mas responde com serenidade às perguntas de algibeira que o agente de serviço lhe faz com um monocordismo capaz de fazer um peixe fechar os olhos. A senhora repete respostas, deita um olhar vazio para o chão, diz que não percebe, que vivem juntos há vinte anos e que há um ano ele começou a ficar diferente, a começar zangas, a acumular processos em tribunal.

Revoltam-me estas cenas quando o mais forte subjuga o mais fraco à sua vontade e revoltam-me também as pessoas más. É completamente estúpido ser-se mau, causar dor e tristeza aos outros e é estúpido porque é inútil, não enriquece o ser, não enobrece
nem confere mais saúde a quem o pratica. Intrigam-me aqueles que se deitam a pensar em maneiras de enganar o parceiro, de trair, de burlar, de obter proveito através do dolo alheio. As botas dos polícias que calcam o chão de mármore da esquadra à medida que trazem relatórios de patrulhas devem já ter pisado muito campo minado, ter perseguido muito bandido, já devem ter caminhado por veredas e azinhagas de escuridões perigosas, emboscadas e ciladas. Não percebo como há homens e mulheres que canalizam tanta energia física e psíquica no fazer mal aos outros quando é do senso comum que fazer bem é muito mais fácil e dá muito mais prazer.




Respeito estes homens que se dedicam à manutenção duma ideia que devia valer-se por si sem que outros tivessem necessidade de defender: Ser bom.

E que a tal senhora da esquadra encontre finalmente as coisas boas que procura.



Originalmente postado AQUI. pelo Misha.

domingo, outubro 16, 2011



















Quero so mais uma volta..
só mais um caminho,
por onde possa percorrer
e sair, sem me sentir sozinho..

Saio e volto a entrar,
neste desconforto da minha alma
que não me quer mostrar
o que mesmo longe, lhe acalma.

Acalmo aquilo que quero,
desço do fundo para a mais alta montanha.
saio e volto a voar,percorro.
quero voltar a sentir, quem me acompanha?

Assim se faz a vontade de querer.
De sentir, aquilo que ainda não sei distinguir,
e ainda assim a vontade irá permanecer.
Como um perfume que me deixa aos poucos,
até se extinguir.